quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Médico Fala de quando Criança deve Faltar à Escola por Problema de Saúde


Perri Klass relata suas visão profissional no diário "The New York Times".
Para ele, principal preocupação acaba sendo o contágio.

Houve momentos em que senti ter passado grande parte da minha vida profissional deixando meus próprios filhos quase doentes na escola (ou na creche) e depois saindo às pressas para examinar crianças que estavam notavelmente menos doentes, porém dispensadas das aulas pelos pais e trazidas para o consultório médico.

Falo do resfriado comum, dos males do inverno, de coriza nasal persistente e garganta irritada, que marcam a passagem dos nossos filhos por uma variedade de vírus respiratórios – ou talvez marquem a passagem dos vírus pelas nossas crianças.

Não estou falando de febre infantil. Nego veementemente os rumores malvados de que eu, ocasionalmente, em um passado distante, dei ao meu pequenino filho uma grande dose de ibuprofeno na hora de deixá-lo na creche. Uma criança com febre deve claramente ficar em casa, assim como aquela que vomita ou simplesmente se sente péssima.

Por outro lado, eu me lembro de ter recebido vários telefonemas de diretores de creches ou enfermeiras da escola para informar que, apesar do meu filho parecer feliz e ativo, havia, na verdade, uma febre oculta – e eu me lembro de ter perguntado: "Que tipo de paranoico mede a temperatura de uma criança feliz e ativa?"



Contágio

Mas, é claro, eles estavam mais preocupados com as outras crianças. E esse é o tipo de questionamento razoável em relação a qualquer criança "quase doente": Quem pode transmitir a infecção, quais os riscos, há algo que possamos fazer para reduzi-los?

Os médicos, como um grupo, defendem que as crianças frequentem a escola normalmente. Todos os médicos com quem conversei estão mais preocupados com faltas desnecessárias à escola do que seu risco de contagiar outros coleguinhas.

O que sabemos sobre o resfriado comum, e como ele é transmitido? Quão contagiosa é essa criança cuja tosse dura semanas? E aquela com o nariz escorrendo?

Um dos problemas é a existência de muitos vírus diferentes.

Caroline Breese Hall, professora de pediatria e medicina da Universidade de Rochester, tem um interesse particular na transmissão de vírus. Ela lembrou um estudo, de anos atrás, sobre o vírus sincicial respiratório, ou VSR.

O micro-organismo pode causar infecções sérias em crianças pequenas. Porém, em crianças de idade escolar e adultos, ele geralmente causa uma gripe ou resfriado comum. O estudo de Hall observou como bebês hospitalizados transmitiam ou não o vírus "para babás, os tocadores e as pessoas que faziam carinho no bebê". As babás eram adultos presentes no ambiente, a mais de um metro de distância do bebê infectado. Os que tocavam eram pessoas que entravam no ambiente onde o bebê não estava e tateavam a área ao redor do berço. E você pode imaginar o que faziam as pessoas que acariciavam o bebê.

As babás não pegaram nenhum vírus. Os que fizeram carinho no bebê foram contaminados, assim como os tocadores, indicando a importância do contato direto com secreção, mas especialmente com objetos e superfícies contaminadas com partículas virais. Era mais perigoso tocar o berço vazio do que permanecer no mesmo ambiente do bebê doente.



Perigo silencioso

Crianças com infecções virais podem contagiar outras antes do aparecimento de sintomas, assim como depois do desaparecimento deles. Por outro lado, algumas crianças com VSR podem tossir por semanas, não porque ainda existem partículas virais, mas porque o vírus afetou a mucosa dos pulmões.

Assim, você pode ter um filho assintomático espalhando vírus, um filho que ainda tosse e já não espalha mais vírus, e uma infecção por partículas virais escondidas em superfícies e objetos. "Não é viável manter todo mundo afastado de quem está espalhando o vírus – isso pode significar todo mundo, durante todo o inverno", disse Dr. Robert Tolan, responsável pela divisão de alergia, imunologia e doenças infecciosas do Hospital Infantil da Universidade de St. Peter, em New Brunswick, Nova Jersey.

Então, como reduzir as infecções?

"A única coisa que pode realmente fazer bonito no controle da infecção é lavar as mãos", disse Hall. "Mesmo para aqueles vírus espalhados por aerosol" – através do ar.

A conclusão, então, é: mantenha seu filho em casa se ele estiver com febre, ou se a criança se sentir fraca demais para ir à escola – mas não se preocupe muito com o garoto do nariz escorrendo na cadeira atrás do seu filho.

Você certamente pode tomar precauções para garantir que um nariz escorrendo não seja o prenúncio de uma doença mais grave. As crianças deveriam estar completamente imunizadas contra coqueluche e sarampo, por exemplo, e a Academia Americana de Pediatria recomenda uma vacina anual contra gripe para todas as crianças entre seis meses e 18 anos de idade.

Provavelmente, dar extratos medicinais à criança na tentativa de aliviar os sintomas de gripes e resfriados não é tão útil. Dr. Michael Shannon, pediatra e toxicologista do Hospital Infantil de Boston e da Faculdade de Medicina de Harvard, foi um dos especialistas em saúde pública que solicitou, com sucesso, à FDA o fim da comercialização de remédios contra resfriados direcionados a pais de crianças pequenas.

Em 2008, a FDA informou que esse tipo de medicamento não deve ser usado em crianças com menos de dois anos de idade, pois pode ser perigoso. "Na melhor das chances, esses remédios têm 6% de eficácia em relação ao alívio dos sintomas, no caso de adultos ou crianças em idade escolar", contou Shannon.

O que realmente empolga os especialistas é a possibilidade de instituir medidas de controle da infecção nas escolas: lavar as mãos, lavar as mãos, lavar as mãos, mas também dispenser de higienizador de mãos, torneiras que abrem automaticamente, banheiros com portas que se abrem quando nos aproximamos – todas as estratégias para reduzir a probabilidade de partículas virais chegarem às mãos de uma criança, e dali para o epitélio receptivo do nariz e dos olhos.

É exatamente esse tipo de medida de controle da infecção em que nós, clínicos, confiamos para nos mantermos saudáveis e fazer nosso trabalho – e que, no longo prazo, pode ajudar muito a impedir as crianças de adoecerem.

Ou, como coloca Hall: "Tirar uma criança da escola, só porque ela senta próxima ao seu filho, não vai ajudar muito se ele entra no refeitório e a mesa está cheia de secreções. Não podemos focar em uma criança doente, porque existe um mundo de micróbios bem mais espertos".

Perri Klass
Para o New York Times

Fonte: G1

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