JEAN PIAGET
A teoria do conhecimento construída por Jean Piaget não tem intenção pedagógica. Porém, ofereceu, aos educadores, importantes princípios para orientar sua prática. “Piaget mostra que o sujeito humano estabelece, desde o nascimento, uma relação com o meio”, explica Jean-Marie Dolle, professor emérito da Universidade Lumière–Lyon 2, na França, e especialista na obra piagetiana. “É a relação da criança com o mundo físico e social que promove seu desenvolvimento cognitivo”, completa o professor Mário Sérgio Vasconcelos, coordenador do curso de pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual Paulista, Câmpus de Assis.
Para Piaget, a forma de raciocinar e de aprender da criança passa por estágios. Por volta dos 2 anos, ela evolui do estágio sensório-motor, em que a ação envolve os órgãos sensoriais e os reflexos neurológicos básicos (como sugar a mamadeira) e o pensamento se dá somente sobre as coisas presentes na ação que desenvolve, para o pré-operatório. “Nessa etapa, a criança se torna capaz de fazer uma coisa e imaginar outra. Ela faz isso, por exemplo, quando brinca de boneca e representa situações vividas em dias anteriores”, explica Vasconcelos. Outra progressão se dá por volta dos 7 anos, quando ela passa para o estágio operacional-concreto. Aqui, consegue refletir sobre o inverso das coisas e dos fenômenos e, para concluir um raciocínio, leva em consideração as relações entre os objetos. Percebe que 3-1=2 porque sabe que 2+1=3. Finalmente, por volta dos 12 anos, chegamos ao estágio operacional-formal. “O adolescente pode pensar em coisas completamente abstratas, sem necessitar da relação direta com o concreto. Ele compreende conceitos como amor ou democracia.
"Essas informações, bem utilizadas, ajudam o professor a melhorar sua prática. “Devemos observar os alunos para tornar os conteúdos pedagógicos proporcionais às suas capacidades”, recomenda Dolle. Para Vasconcelos, a criança é um pesquisador em potencial. “Levantando hipóteses sobre o mundo, ela constrói e amplia seu conhecimento”. Nesse processo, você, professor, tem papel fundamental. Ser construtivista não é deixar o aluno livre, acreditando que evoluirá sozinho. “O mestre precisa proporcionar um conflito cognitivo para que novos conhecimentos sejam produzidos”, endossa Ulisses Araújo, professor do Departamento de Psicologia Educacional da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas.
“Uma máxima da teoria piagetiana é que o conhecimento é construído na experiência”, afirma Araújo. Isso fica claro quando se estuda a formação da moral da criança, campo a que o pensador suíço se dedicou no início da carreira e no qual Araújo se especializou. “Para Piaget, o que permite a construção da autonomia moral é o estabelecimento da cooperação, em vez da coação; e do respeito mútuo, no lugar do respeito unilateral”, explica Araújo. “Dentro da escola, isso significa democratizar as relações para formar sujeitos autônomos.”
Em Salvador, a Escola Municipal Barbosa Romeu tem, nessa questão, uma das maiores preocupações. De acordo com a coordenadora pedagógica Elisabete Monteiro, além de os professores trabalharem com os projetos, o que elimina a simples transmissão de conhecimento, a equipe usa o respeito mútuo como estratégia para integrar os estudantes ao ambiente escolar. Boa parte da clientela vem do Projeto Axé, que atende crianças em situação de risco e com muita dificuldade na aquisição da leitura e da escrita. “Temos um conselho escolar forte e alunos representantes de sala atuantes. O que vai ser trabalhado em sala é discutido coletivamente”,
explica Elisabete.
JEAN PIAGET
Nascido na Suíça, em 1896, numa família rica e culta, aos 7 anos já se interessava por estudos científicos.
Biólogo de formação, estudou Filosofia e doutorou-se em Ciências Naturais aos 22 anos. Em 1923, lançou A Linguagem e o Pensamento na Criança, o primeiro de seus mais de sessenta livros. Faleceu em 1980, na Suíça.
O QUE FICOU
É na relação com o meio que a criança se desenvolve, construindo e reconstruindo suas hipóteses sobre o mundo que a cerca.
UM ALERTA
O professor deve respeitar o nível de desenvolvimento das crianças. Não se pode ir além de suas capacidades nem deixá-las agirem sozinhas.
Fonte: Revista Nova Escola
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