segunda-feira, 23 de março de 2009

Sem Afeto não dá


Deixar, sistematicamente, de dar um abraço, recusar beijos, evitar aquele cafuné quase necessário e esquecer cuidados básicos para a criança, como alimentá-la, pode deixar marcas para toda a vida. Depressão e prejuízos na memória são algumas consequências que podem estar associadas a quadros de abandono na infância.

A conclusão é científica, proveniente de um estudo do professor da Faculdade de Psicologia e psiquiatra Rodrigo Grassi de Oliveira. Premiada no Congresso da International Society of Traumatic Stress Studies, realizado em Chicago (EUA), e publicada na Biological Psychiatry (EUA), a pesquisa sugere que a negligência pode afetar o desenvolvimento cognitivo.

Segundo Grassi, uma criança privada de afeto e cuidado fica sujeita a ter de enfrentar situações de estresse. Como ela ainda não está madura, o acúmulo desse estressor poderia contribuir para as alterações no seu desenvolvimento. Conversamos com o psiquiatra para entender um pouco mais sobre a importância do afeto na vida das crianças.

Meu Filho – Quais consequências trazem a falta de afeto?

Rodrigo Grassi de Oliveira – Primeiramente é necessário esclarecer o conceito de negligência na infância. A negligência pode ser de natureza física, quando, por exemplo, alimentos e cuidados de higiene são privados da criança, ou emocional, quando ela é exposta a um ambiente sem afeto, proteção e apoio. Os estudos mostram que as consequências podem incluir alterações psicológicas, psiquiátricas, neurológicas, imunológicas ou hormonais na vida adulta.

Meu Filho – A partir de qual idade a pessoa começa a demonstrar os efeitos da falta de afeto e da preocupação dos pais?

Grassi – Isso depende de cada indivíduo, de que efeitos seriam esses e, inclusive, se haverá ou não consequências. Mas, por exemplo, alguns efeitos neuropsicológicos já podem ser percebidos na idade escolar.

Meu Filho – Como é possível mudar as consequências de uma vida sem afeto e sem o amor dos pais?

Grassi – Acredito que a psicoterapia, em muitos casos, é uma maneira importante de se lidar com tais situações. Algumas consequências são irreversíveis, o que não exclui a possibilidade de se aprender a viver melhor com isso. Em outros casos, medicações também serão necessárias.

Meu Filho – Quais as dicas que você dá para os pais criarem os filhos com qualidade e afeto?

Grassi – Às vezes, alguns pais me questionam com essa mesma pergunta. Eu costumo responder com a imagem do primeiro banho de um bebê: é importante molhar, ensaboar, limpar com cuidado para o nenê não se afogar. Eu acredito que limites claros dentro de uma atmosfera de carinho e cuidado seria a meta ideal para qualquer desenvolvimento saudável. O suporte familiar, exercícios físicos da criança, nutrição adequada, amamentação do bebê até pelo menos os três meses são outras situações que conferem qualidade ao desenvolvimento da criança.

RODRIGO GRASSI DE OLIVEIRA, PSIQUIATRA

Fonte: Zero Hora

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